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sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Temos Muito Que Aprender

      Dizem que existem duas línguas afeitas à filosofia; grego e alemão. Eu de grego não entendo nada e nem tenho a pretensão de estudar a língua, mas alemão eu estudei, no colégio e Instituto Goethe. A língua alemã tem uma característica muito especial que a torna perfeita para filosofar, que é o fato de compor palavras com ideias. Peguemos a expressão "auf", que basicamente quer dizer "em", mas que associada com verbos, adjetivos ou contextualizada numa oração específica, pode ser um verdadeiro elo em correntes de raciocínios. Se unirmos com "heben", que pode ser um simples "elevador", mas pode adquirir o sentido adverbial de "levantamento"(que em português tem até 12 significados), podemos criar um conceito quase obscuro, que é o da supressão, mantendo a essência daquilo que foi cancelado. Confuso? Pois creiam que "aufheben" baseia o mais ancestral conceito filosófico que vem desde os tempos de Platão, mas que encontrou em Hegel seu mais ardoroso defensor: a dialética.

    O filósofo alemão chega ao ponto de dizer que a dialética não é apenas um método, mas o conceito filosófico em si: "a dialética é responsável pelo movimento em que uma ideia sai de si própria para ser uma outra coisa e depois regressa à sua identidade, se tornando mais concreta". Ou seja: um conceito é suprimido e cancelado por outro, mas sem perder sua essência, retorna num terceiro momento sintetizando o que levou de origem com o que agregou no caminho. Este caminho é a discussão, o debate, a observação, a ponderação. Para Hegel, esse é um caminho para transformar a razão em algo concreto para nossas vidas. É isso que está faltando.

   Estamos vivendo um momento em nosso país em que existem 2 conceitos nítidos a se digladiar. Isso é absolutamente normal na história humana. O problema do Brasil e dos brasileiros é que, aqui são muito poucos, quase ninguém, que se dá ao trabalho de pensar no advir. Ou uma ideia vence e subjuga a outra e a todos os que não concordarem, ou isso será feito na marra. 

    Quem é que está pensando no futuro? Quem é que está levando em conta a essência do conceito a ser suprimido, para que num terceiro momento esta ressurja do éter, construindo uma síntese aproveitando o que é positivo daquilo que foi ultrapassado? É isso que está faltando. Se nessa guerra odiosa entre petralhas e coxinhas, chegarmos apenas a um quadro onde um subjugou o outro, anotem aí, essa disputa renascerá logo ali, com mais intensidade e violência, incendiando esta nação.

    Por isso reverencio a Academia de Estocolmo, ao entregar o Prêmio Nobel da Paz ao Quarteto Pelo Diálogo Nacional, que transformou a Primavera Árabe em uma transição à democracia na Tunísia, país onde surgiram os primeiros conflitos de toda essa barafunda que assola o mundo, a partir dos países árabes. Um exemplo a ser analisado e, porque não, a seguir.

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